AUTORAMA
Na minha infância um sonho não se concretizou: o autorama! Naquela época nossos pais costumavam nos colocar dentro da realidade nos limites do possível, ou seja, a grana não dá, entendeu, filho? Hoje as crianças se iludem com o poderoso papai que enfia o cartão numa máquina infernal que cospe dinheiro, uma fantástica fábrica de dinheiro!
Mas curti tardes ensolaradas, depois das matinés, inventando aventuras com os soldadinhos e índios do Forte Apache no quintal da minha casa lá em São Borja, entre pereiras, abacateiros, pitangueiras e meu cachorro, o Amigo, guaipeca que me acompanhava nas emboscadas à caravana e liderava o ataque da cavalaria; que saudades!
Lá pelos meus vinte anos comprei um autorama de um colega em aperto e montei dentro do meu apê-ovo, que tomou quase toda a área da residência, acreditem.
Era um autorama da Estrela, vieram três carrinhos: uma Lotus, a Ferrari do Niki Lauda e o Copersucar do Fittipaldi.
Meus amiguinhos borrachos se divertiam em memoráveis corridas e grandes prêmios regados a Black Tie e Norteñas de litro.
Acho que essa fase durou uns seis meses, até meu amigo Capincho e eu resolvermos tornar as peleias automobilísticas mais emocionantes, tocando fogo na pista pros carros passarem numa desafiadora cortina de fogo, um torvelinho de emoções quase tocar fogo no apartamento e no prédio, coisa de bêbado, de dois malucos realizando um velho sonho de infância, amigos e amigas!
Hoje nem sei se existe autorama, talvez nos games, telas e noutras engenhocas virtuais, que a meninada brinca sem se sujar de terra ou sangrar o joelho numa queda de bicicleta, não sei. Bons velhos tempos, meus queridos e queridas correligionárias, bom almoço pra vocês!